To Write Love On Her Arms

O metrô passa, rápido, pela estação. Um garota descansa a cabeça na janela. O que se passa em sua mente? O que ela vê, assim, tão absorta em seus pensamentos? Ela planeja o futuro, questiona o passado?

Tão rápido quanto chegou, o trem vai embora, eternizando minhas dúvidas. O mais provável é que eu nunca mais a veja. Mas, mesmo assim, ela continua nos meus pensamentos. Hipóteses surgem e multiplicam-se, imagino sua imagem passando como um relâmpago pelas próximas estações, e somente suposições podem legendar a foto que tirei com meus olhos.

Apenas uma garota desconhecida, mas que me deixou com um aperto no peito. Não vi alegria naquele olhar. Não vi esperanças. Não vi saudosismo. Esses sentimentos emanam tão exageradamente das pessoas que todos sabem quando alguém está feliz. Mas o vazio... 

O vazio é abstrato demais, sutil demais, sem deixar de ser gritante. O vazio é fato, embora seja incógnita.

E foi esse "não enxergar" da garota que me chamou tanto a atenção. A impotência tomou conta de mim; sabe-se lá o que ela fará em seguida, pra onde vai correr. Só sei que não estarei lá pra ajudar. E isso incomoda.

Nunca soube como lidar com o vazio dos outros, provavelmente por não saber lidar com o meu. Sei que é opressor, desconfortável, intimidador, e imagino que ganharia pontos na luta contra meus medos se pudesse ajudar alguém a lutar contra os seus. Mas... como fazer isso?
Há alguns meses, vi o Lucas, da Fresno, vestindo uma camiseta muito bonita, com os dizeres: TO WRITE LOVE ON HER ARMS. "Para escrever amor nos braços dela???" - pensei - "O que isso quer dizer?". Em pouco tempo, descobri que se tratava de uma campanha internacional contra o suicídio e a depressão. Mais bonita que a camiseta, só a história que levou ao surgimento do TWLOHA.

Tudo começou com uma garota que, provavelmente, descansava a cabeça na janela do metrô, olhando para o nada. O vazio que essa garota sentia, alimentado por problemas com drogas, alucinações, doses cada vez maiores de sofrimento e uma profunda depressão, fez com que ela começasse a pensar em tirar a própria vida. Cinco cortes nos braços denunciavam sua vontade, e, um dia, quando todos os seus amigos estavam dormindo, com o sol nascendo, ela se trancou no banheiro e cortou os pulsos. Com seu sangue, escreveu FUCK UP no braço esquerdo. Ela foi encontrada pelos amigos e levada ao hospital.

Cinco dias após a tentativa de suicídio de Renee, a campanha foi criada, com o intuito de escrever amor nos braços dela, e mostrar que depressão é uma doença, que, como tal, deve ser tratada. Todo o dinheiro arrecadado pela campanha vai para o tratamento de jovens como ela.

Essa iniciativa é, talvez, a mais bonita da qual eu tomei conhecimento nos últimos anos. Eu, que sempre me preocupei com a sociedade, sempre quis lutar contra a injustiça, o preconceito, a desigualdade social, percebi o quão importante é se engajar pela mais importante bandeira existente: o ser humano.

Nessa sociedade corrompida pelos distorcidos valores materiais, dominada pelo individualismo, onde preocupar-se com o próximo é bobagem, a primeira coisa que somos forçados a deixar para trás é o amor. E essa negligência me preocupa.

Mas, como diz o poeta, esperança é a última que morre. Por pessoas como essas, que se dispuseram a fazer o possível para dar um sentido positivo à vida de quem sofre, minha esperança se reestabeleceu.

Saiamos às ruas, de coração aberto, procurando por braços onde escrever AMOR. Preocupemo-nos com as garotas de olhar vazio nas janelas da vida. Ofereçamos abraços a quem precisar ser abraçado. Procuremos sorrisos. E, então, viveremos em um mundo melhor.

Um mundo onde não seja vergonha AMAR e SER AMADO.

To Write LOVE On Her Arms

Tiago Sousa

Sou Desenvolvedor Web Full-Stack com ênfase em Java, atuando no mercado de TI há 15 anos. Ao longo da carreira, adquiri conhecimentos sólidos e abrangentes em diversas tecnologias.